A ideia de que o exercício é remédio parece uma descoberta recente, não é mesmo? Vemos iniciativas globais, médicos e profissionais de saúde cada vez mais defendendo a atividade física como peça fundamental para a prevenção e tratamento de diversas doenças.
Mas e se eu te disser que essa sabedoria tem raízes que remontam a milhares de anos? Muito antes de existir a medicina moderna como a conhecemos, grandes mentes já entendiam o poder do movimento para a saúde humana. Prepare-se para uma viagem fascinante pela história!
Exercício é Remédio: Uma Ideia Antiga e Poderosa
O conceito de que “Exercício é Remédio” (do inglês, Exercise Is Medicine – EIM) é hoje uma iniciativa mundial promovida por importantes organizações de saúde. O objetivo é mobilizar médicos e profissionais a incorporar a atividade física em suas práticas para prevenir, reduzir e tratar doenças crônicas.
No entanto, a verdade é que essa “nova” abordagem é, na verdade, um retorno a um conhecimento ancestral. Há mais de dois milênios, a prática de exercícios já era vista como parte essencial da receita para uma vida saudável e a recuperação de enfermidades.
Os Pioneiros da Medicina do Movimento: Quem Foram Eles?
Diversas civilizações antigas, em diferentes partes do mundo, já valorizavam o movimento como um pilar da saúde. Conheça alguns dos visionários que pavimentaram o caminho para a ideia do exercício é remédio:
Susruta, o Sábio Indiano (600 a.C.): O Primeiro a Prescrever Exercício
Na Índia antiga, um médico chamado Susruta, um dos primeiros cirurgiões registrados, foi o pioneiro. Ele foi o primeiro a prescrever exercício diário e moderado aos seus pacientes. Susruta acreditava que o exercício fortalecia o corpo, melhorava a digestão, combatia a preguiça e ajudava a reduzir o peso excessivo (que ele ligava a várias doenças, como a diabetes). Ele, inclusive, alertava: o exercício deve ser feito “apenas até a metade da sua capacidade”, pois o excesso poderia ser prejudicial.

Caraka: Equilíbrio e Esforço na Índia
Séculos depois, outro médico indiano, Caraka, também reforçou a importância do equilíbrio no corpo para a saúde. Ele defendia o exercício diário, assim como Susruta. Curiosamente, Caraka chegou a prescrever exercício vigoroso para “curar” a diabetes, um ponto de vista que se destacava dos demais em sua época.
Hua T’O: A Ginástica Chinesa e o Efeito Yang
Na China antiga, por volta de 25 a.C. a 250 d.C., o médico e cirurgião Hua T’O prescrevia exercícios para promover o “efeito yang”, ou seja, a vitalidade e a saúde. Ele desenvolveu o que chamava de “ginástica divertida”, que imitava os movimentos de animais como cervos, tigres, ursos, guindastes e macacos. Para Hua T’O, esses exercícios fortaleciam as pernas, melhoravam o apetite, retardavam o envelhecimento e preveniam doenças. Ele também alertava para os perigos do exercício em excesso.
Pitágoras: O Filósofo Grego e o Exercício Diário
Sim, o famoso matemático Pitágoras (570-490 a.C.) também foi um defensor do exercício é remédio! Ele foi o primeiro filósofo grego a advogar o exercício diário por razões de saúde. Sua escola, em Crotona (Itália), era um centro onde ele aconselhava seus seguidores a aderir a um regime de dieta, exercício, música e meditação. Para ele, as doenças surgiam do desequilíbrio entre os elementos do corpo, e o movimento era essencial para restaurar a harmonia.

Heródico: O Primeiro “Médico do Esporte” (e suas controvérsias)
Heródico (500 a.C.), que alguns consideram o “pai da medicina esportiva”, focava nos efeitos terapêuticos do exercício. Ele usava o movimento para ajudar na recuperação de lesões atléticas. No entanto, foi criticado por Hipócrates por prescrever exercícios considerados excessivamente vigorosos para seus pacientes.
Hipócrates: O Pai da Medicina e a Receita Escrita de Exercício
Hipócrates (460-370 a.C.), o “pai da medicina científica”, fez uma contribuição monumental: ele foi o primeiro médico a deixar uma prescrição de exercício por escrito. Em seus textos, ele detalhou um plano de caminhadas para um paciente com “consumição” (termo antigo para tuberculose). Hipócrates acreditava firmemente que “comer sozinho não manterá o homem saudável; ele também deve se exercitar”. Ele alertava contra a inatividade, o exercício excessivo e o consumo exagerado de comida, pois todos podiam levar à doença. Para ele, o exercício aumentava a estatura, a massa óssea e muscular, melhorava a digestão e a resistência à fadiga.
Galeno: A Influência Romana que Durou Séculos
No Império Romano, Galeno (129-210 d.C.), médico de gladiadores, se tornou a figura mais influente na medicina por cerca de 1.400 anos! Ele era um admirador de Hipócrates e também defendia que as doenças vinham do desequilíbrio do corpo. Galeno prescrevia exercício para tratar uma vasta gama de condições, como artrite, depressão, epilepsia, gota, tuberculose e vertigem. Para ele, o exercício deveria ser moderado para ser benéfico à saúde, e ele até tinha um exercício favorito: jogos com uma pequena bola, que considerava ideal para a harmonia do corpo e da alma.
Atenção ao Exagero: O Paradoxo do Exercício na Antiguidade
Um ponto em comum entre a maioria desses grandes nomes do passado é o alerta contra o exercício excessivo. Susruta, Hua T’O, Hipócrates e Galeno, entre outros, acreditavam que o exagero na atividade física poderia levar a doenças ou até mesmo à morte. Essa percepção antiga da importância da moderação ressoa fortemente com a medicina moderna, que busca o equilíbrio e a individualização na prescrição do movimento.
E Esparta? Fitness para a Guerra, Não para a Saúde Integral
Ao falarmos de história da atividade física, muitos pensam em Esparta, a cidade-estado grega famosa por seus guerreiros. De fato, os espartanos eram extremamente focados na aptidão física e treinavam intensamente para a guerra. No entanto, é importante ressaltar que a contribuição de Esparta para o conceito de exercício é remédio, no sentido de uma saúde holística e integral, é mínima. Suas práticas sociais, como a eugenia (seleção de “aptos” ao nascer) e a falta de empatia para com os fracos, contrastam com a visão humanizada e preventiva da medicina do movimento que exploramos.
A lição aqui é que a saúde vai além da mera aptidão física para um propósito específico; ela engloba bem-estar físico, mental e social, um conceito que a Medicina do Estilo de Vida busca resgatar e aprofundar.
O Legado do Passado para o Seu Presente
A iniciativa “Exercício é Remédio” não é uma moda passageira do século XXI, mas sim uma redescoberta de verdades que foram compreendidas por civilizações e pensadores muito antes de nós. A sabedoria antiga nos mostra que o movimento sempre foi um pilar fundamental para a prevenção e o tratamento de doenças, e para a promoção de uma vida plena.
Hoje, temos o conhecimento científico para individualizar essa prescrição e entender os mecanismos por trás dos benefícios. No entanto, o princípio básico permanece: incorporar o movimento de forma regular e consciente em sua rotina é um dos maiores investimentos que você pode fazer na sua saúde.
Seja para fortalecer seu coração, controlar a diabetes, melhorar seu humor ou simplesmente ter mais energia, o exercício é remédio. Comece hoje, com moderação e consistência.
Mais do que otimizar sua saúde, eu o convido a uma jornada de autoconhecimento, a desvendar seu verdadeiro potencial. Neste caminho, estou aqui para te guiar.
Agende uma avaliação e vamos explorar juntos o melhor de você.
Referência
Tipton, C. M. (2014). The history of “Exercise Is Medicine” in ancient civilizations. Advances in Physiology Education, 38(2), 109–117.