Insuficiência cardíaca

O que é insuficiência cardíaca?

A insuficiência cardíaca é uma síndrome complexa que pode ser causada por uma variedade de condições subjacentes, como doença arterial coronariana, hipertensão arterial, doenças cardíacas congênitas, doenças das válvulas cardíacas, cardiomiopatia e outros fatores. Essas condições podem levar ao enfraquecimento do músculo cardíaco, a alterações estruturais ou a um mau funcionamento do coração, comprometendo sua capacidade de bombear sangue eficientemente.

Existem dois principais tipos, classificados de acordo com um parâmetro encontrado no ecocardiograma, a Fração de Ejeção. Ela pode ser preservada ou reduzida.

Temos, portanto, a insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER) e insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP).

Quais são os tipos de insuficiência cardíaca?

Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Reduzida (ICFER)

A insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida ocorre quando o músculo cardíaco se enfraquece e não consegue bombear sangue adequadamente. A fração de ejeção refere-se à porcentagem de sangue que é bombeada para fora do coração a cada contração. É um cálculo realizado através de medidas obtidas no ecocardiograma. A fração de ejeção reduzida mostra uma força de contração diminuída pelo músculo cardíaco.

Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Preservada (ICFEP)

Na insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada, o músculo cardíaco se torna rígido e não relaxa adequadamente durante o período de repouso entre as contrações. Nesse caso, a fração de ejeção, que ainda se refere à porcentagem de sangue bombeado, é normal. O problema é que o enchimento ventricular é diminuído ou ocorre com pressões cavitárias muito elevadas.

Quando os sintomas e sinais de insuficiência cardíaca ocorrem com uma FE preservada, é utilizado o termo ICFEP ou insuficiência cardíaca com FE preservada. Uma FE normal situa-se geralmente à volta de 60%. Uma FE inferior a 40% é considerada reduzida (ICFER) e mais de 50% é considerada uma FE preservada (ICFEP). Muitos doentes terão uma FE entre 40-49%, que é considerada levemente reduzida. Mais recentemente, essa leve redução na FE foi denominada ICFEI ou insuficiência cardíaca com FE intermédia.


É importante ressaltar que não conseguimos diferenciar entre os dois tipos de insuficiência cardíaca somente com avaliação de sinais e sintomas, pois as manifestações clínicas são semelhantes!

As duas condições são frequentes e responsáveis por uma grande parte da mortalidade cardiovascular. Podemos dizer que a insuficiência cardíaca é a fase final de todas as outras doenças no coração, seja doença coronariana, hipertensiva, valvar ou mesmo como complicação grave de episódios de miocardite.

O termo “insuficiência cardíaca” soa como se o coração não estivesse mais funcionando. Na verdade, a insuficiência cardíaca significa que o coração não está bombeando tão bem quanto deveria. A insuficiência cardíaca descompensada é um tipo de insuficiência cardíaca que requer atenção médica emergencial, com necessidade de tratamento geralmente em ambiente hospitalar.

Seu corpo depende da ação de bombeamento do coração para fornecer sangue rico em oxigênio e nutrientes para as células do corpo. Com a insuficiência cardíaca, o coração enfraquecido não pode fornecer sangue suficiente às células. Isso resulta em fadiga e falta de ar, e algumas pessoas experimentam tosse excessiva. Atividades cotidianas como caminhar, subir escadas ou carregar mantimentos podem se tornar muito difíceis.

Insuficiência cardíaca é um termo usado para descrever um coração que não consegue acompanhar sua carga de trabalho. O corpo pode não obter o oxigênio de que precisa.

A insuficiência cardíaca é uma condição grave que precisa acompanhamento médico contínuo. Pode ser incapacitante, mas muitas pessoas com insuficiência cardíaca levam uma vida plena e agradável quando a condição é controlada com medicamentos adequados e com um estilo de vida saudável.

Quais os sintomas de insuficiência cardíaca?

Na insuficiência cardíaca, os sintomas mais comuns são a falta de ar, a fadiga e o inchaço nas pernas. A falta de ar, conhecida como dispneia, ocorre quando a pessoa sente dificuldade para respirar, principalmente durante atividades físicas ou ao deitar-se. A fadiga é uma sensação constante de cansaço e fraqueza, mesmo após períodos de descanso adequado. O inchaço nas pernas, tornozelos, pés e abdômen é resultado do acúmulo de líquido nos tecidos devido ao mau funcionamento do coração. Outros sintomas comuns incluem tosse persistente, ganho de peso inexplicado, palpitações, tonturas e diminuição da capacidade de exercício.

Sintomas causados pelo acúmulo de líquidos ou congestão:

Falta de ar

Tosse ou respiração ofegante

Aumento de peso

Tornozelos, pernas ou abdômen inchados

Sintomas relacionados com a redução do fluxo sanguíneo para partes do corpo:

Cansaço/fadiga

Tonturas

Frequência cardíaca rápida

Outros sintomas de insuficiência cardíaca são: perda de apetite e necessidade de urinar à noite.

Uma vez que a insuficiência cardíaca traga limitações funcionais e sintomas frequentes, algumas pessoas podem apresentar sintomas emocionais, como depressão e ansiedade. Por isso a importância de contar com uma rede de apoio, familiares e amigos que entendem a condição e uma equipe médica especializada em tratamento dentro e fora do hospital.

Como é feito o diagnóstico de insuficiência cardíaca? Quais exames devo fazer?

O diagnóstico de insuficiência cardíaca é essencialmente clínico, ou seja, feito através da interpretação médica dos sinais e sintomas e da interpretação de exames complementares de imagem e laboratoriais.

Exames complementares essenciais:

  • Eletrocardiograma (ECG)
  • Análises laboratorial (BNP e NT-próBNP)
  • Radiografia do tórax
  • Ecocardiograma transtorácico
 

Exames complementares avançados:

  • Cateterismo cardíaco
  • Ressonância magnética do coração
  • Tomografia cardíaca (Angiotomografia coronariana)
  • Cintilografia cardíaca
  • Ecocardiograma transesofágico
  • Teste ergométrico e/ou teste cardiopulmonar de esforço.

 

Uma vez com o diagnóstico confirmado de insuficiência cardíaca, deve-se buscar uma causa. As causas mais frequentes são: doença arterial coronariana, hipertensão arterial, doenças valvares, miocardiopatias e em alguns casos a causa permanece desconhecida (idiopática). A maior parte dos exames complementares na avaliação da insuficiência cardíaca tem como objetivo identificar as causas para propor os melhores tratamentos. Deve ser escolhido de acordo com a hipótese etiológica feita pelo cardiologista no momento da consulta.

Como é o tratamento da insuficiência cardíaca?

A base para o tratamento de qualquer enfermidade é um estilo de vida saudável. Não seria diferente para a insuficiência cardíaca. Entretanto, nesse caso, deve ser ainda mais implementado, pois qualquer excesso pode ser motivo de descompensação e necessidade de hospitalização.

Quanto ao tratamento medicamentoso, este difere entre os diferentes tipos de insuficiência cardíaca. Existem medicações bem estabelecidas para o tratamento da insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER) e recentemente surgiram opções também para o tratamento da insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFER).

Quando a doença está descompensada, é necessário avaliação cardiológica contínua para o ajuste das medicações. Algumas vezes precisamos reduzir dose, suspender temporariamente, trocar medicações e, às vezes, é necessário que isso seja feito em ambiente hospitalar.

Além do estilo de vida saudável e medicações, e conforme a causa da insuficiência cardíaca, poderá haver necessidade de tratamentos específicos como cirúrgica cardíaca ou cardiologia intervencionista, via cateterismo.

É importante também o tratamento de outras doenças de base como hipertensão arterial, diabetes e fibrilação atrial.

Por se tratar de uma doença complexa e multifatorial, a existência de um Heart Team pode ser necessária para definir qual a melhor forma de tratamento.

Qual o papel do estilo de vida no tratamento da insuficiência cardíaca?

O estilo de vida desempenha um papel crucial no tratamento da insuficiência cardíaca. Adotar um estilo de vida saudável pode ajudar a controlar os sintomas, melhorar a qualidade de vida e reduzir a progressão da doença. Aqui estão alguns aspectos-chave do estilo de vida que são recomendados no tratamento da insuficiência cardíaca:

Alimentação saudável: Uma dieta equilibrada, rica em frutas, legumes, grãos integrais, proteínas magras e gorduras saudáveis, é essencial. É importante limitar a ingestão de sódio (sal) para controlar a retenção de líquidos e evitar alimentos processados e ricos em gordura saturada.

Restrição de líquidos: Em casos de retenção significativa de líquidos, é importante seguir as orientações médicas quanto à ingestão adequada de líquidos para evitar a sobrecarga de fluidos no organismo.

Atividade física regular: A prática regular de exercícios físicos adequados às capacidades do paciente, como caminhadas, natação ou ciclismo, pode fortalecer o coração, melhorar a função cardíaca, aumentar a capacidade de exercício e reduzir os sintomas de fadiga.

É importante seguir as recomendações do cardiologista em relação à intensidade e duração dos exercícios, idealmente após um teste cardiopulmonar de esforço, para programar a frequência cardíaca de treinamento.

Controle do peso: Manter um peso saudável é fundamental, pois o excesso de peso pode sobrecarregar o coração. É importante seguir uma dieta balanceada e praticar atividade física regularmente para alcançar e manter um peso saudável.

Abstenção do tabagismo: O tabagismo é extremamente prejudicial para o coração e os vasos sanguíneos. Parar de fumar é fundamental para reduzir os riscos e melhorar a saúde cardiovascular.

Moderação no consumo de álcool: O consumo excessivo de álcool pode levar a complicações cardíacas e interferir com a eficácia dos medicamentos. É importante limitar o consumo de álcool ou evitar completamente, conforme orientação médica.

Tratamento medicamentoso da insuficiência cardíaca

Algumas medicações são utilizadas para alívio dos sintomas e no processo de compensação, porém sem efeito em termos de redução de mortalidade. Já outras, ao contrário, devem ser introduzidas de forma cautelosa no momento certo e na dose certa, para aumentar a sobrevida e diminuir a chance de descompensação da doença e por consequência as hospitalizações.

Na insuficiência cardíaca, temos alguns exemplos de medicações ou classes farmacológicas que reduziram a mortalidade: Betabloqueadores (carvedilol, bisoprolol, metoprolol, nebivolol), IECAs (enalapril, ramipril, perindopril, lisinopril), BRAs (valsartana, candesartana, losartana), Espironolactona, Sacubitril-valsartana, empagliflozina e dapagliflozina.

Algumas medicações reduzem a mortalidade na ICFER e não na ICFEP. Várias medicações estão sendo estudadas e é um cenário em constante atualização.

Outras medicações têm o objetivo de melhorar sintomas e ajudar na compensação, como diuréticos (furosemida) e vasodilatadores (nitrato e hidralazina), mas que geralmente não são utilizados no longo prazo.

Tratamento cirúrgico e intervencionista na insuficiência cardíaca

O tratamento cirúrgico e intervencionista na insuficiência cardíaca envolve procedimentos invasivos que visam corrigir ou melhorar a função cardíaca comprometida. Aqui estão algumas opções de tratamento cirúrgico e intervencionista comumente utilizadas:

Cirurgia de revascularização miocárdica: Também conhecida como ponte de safena ou cirurgia de “bypass” coronariano, ela é realizada para desviar o fluxo sanguíneo ao redor de artérias coronárias bloqueadas ou estreitadas, melhorando o suprimento de sangue ao músculo cardíaco.

Transplante cardíaco: Em casos graves de insuficiência cardíaca refratária a outros tratamentos, pode ser considerado um transplante de coração. Nesse procedimento, o coração do paciente é substituído por um coração saudável de um doador compatível.

Implante de dispositivos: Diferentes dispositivos podem ser implantados para melhorar a função cardíaca e regular o ritmo cardíaco. Alguns exemplos incluem:

  • Marcapasso: Um dispositivo que ajuda a regular o ritmo cardíaco, fornecendo estímulos elétricos para o coração, quando necessário.
  • Cardiodesfibrilador implantável (CDI): Um dispositivo que monitora o ritmo cardíaco e, se detectar ritmos perigosos, pode fornecer terapia elétrica para restaurar o ritmo normal.
  • Ressincronizador cardíaco: Um dispositivo que ajuda a sincronizar as contrações do coração em pacientes com insuficiência cardíaca e problemas de condução elétrica.
 

Intervenção percutânea: Procedimentos minimamente invasivos realizados através de cateteres inseridos em vasos sanguíneos, geralmente na virilha. Esses procedimentos incluem:

  • Angioplastia coronariana: Utiliza balões infláveis para abrir artérias coronárias estreitadas ou bloqueadas e, em alguns casos, pode ser acompanhada pela colocação de stents para manter a abertura da artéria.
  • Implante de válvula cardíaca aórtica percutânea (TAVI): Um procedimento no qual uma nova válvula cardíaca é implantada através de um cateter e posicionada no local da válvula aórtica, sem a necessidade de cirurgia aberta.

"Tratando a doença de base e implementando um tratamento medicamentoso com medidas comportamentais adequadas, podemos ter uma recuperação importante da função cardíaca, com aumento da sobrevida e melhor qualidade de vida! O tratamento da insuficiência cardíaca deve ser individualizado e feito por cardiologista com experiência na área."

Sobre os programas de acompanhamento...

Tendo em vista o aspecto crônico dessa doença e a necessidade de reavaliações contínuas, os melhores resultados no tratamento da insuficiência cardíaca são obtidos com um programa de acompanhamento médico personalizado. Ele pode incluir avaliações médicas semanais, acompanhamento à distância dos principais sinais e sintomas e vigilância contínua das outras comorbidades, buscando sinais precoces de descompensações. Além disso, o cardiologista se torna a referência em saúde para o paciente, gerenciando as medicações em uso e influenciando no manejo de outras doenças que possam interferir com a função cardíaca.

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